quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Problema de "Salve Jorge" não é preconceito social, é de narrativa

Muito se especula sobre os motivos que fizeram a novela “Salve Jorge”, de Glória Perez, derrubar a audiência do horário das 21h. Fala-se muito do efeito “Avenida Brasil”, que deixou “órfãos” do conflito de Carminha (Adriana Esteves) e Nina (Débora Falabella). Também culpou-se o horário de verão, o horário eleitoral e a temática repetida desde “O Clone” e “Caminho das Índias”.

Em entrevista à colunista Mônica Bergamo nesta quinta (29), Glória justificou os índices baixos que sua história tem alcançado por conta do preconceito social que os brasileiros teriam contra pessoas que vivem no morro do Alemão, principal locação da trama.

Em parte é verdade, mas o problema de “Salve Jorge” parece ser mais de narrativa que de tema. Fosse assim, filmes como “Cidade de Deus” e “Tropa de Elite” não seriam campeões de bilheteria e novelas como “Vidas em Jogo”, da Record, não teriam alcançado altos índices de audiência na concorrência.
Em sua primeira cena, “Salve Jorge” parecia que ia embarcar em uma tendência bastante comum nos seriados americanos e que o autor João Emanuel Carneiro aplicou, com erros e acertos, em “Avenida Brasil”: a narrativa fragmentada, que mostra concomitantemente fatos ocorridos no passado e no presente.

“Lost” segurou seu público assim, “Revenge” idem, “American Horror Story” idem. Quando o telespectador vê Morena (Nanda Costa) sendo vendida e, logo após, fugindo, cria-se uma expectativa pelo destino da heroína, especialmente após o corte e o retorno aos meses que precedem aquele fato.



No entanto, logo após esse pequeno salto no tempo, a narrativa volta a ser convencional e arrastada (especialmente pelo excesso de tramas e personagens). O telespectador se entedia com a repetição da fórmula país exótico, dancinha, bordão, marketing social, e o primeiro momento de empatia se dissolve.

Isso porque a forma de leitura do espectador mudou desde que a leitura fragmentada proporcionada pela internet subverteu o modelo vigente de narrativa linear. Ninguém mais tem paciência para prólogos intermináveis que, após cem capítulos, chegarão a parte da conclusão. As pessoas querem ver e ouvir histórias que façam sentido em meio à desconexão de ideias, porque é assim que percebem a vida atualmente.

Além desse aspecto, fragmentar a história em dois tempos proporciona ao autor uma maior facilidade em criar ganchos e trazer fatos novos ao público, o que, por sua vez, dá dinâmica ao desenrolar da trama.

Quem provavelmente sofrerá do mesmo mal de Glória Perez será o autor Manoel Carlos, o segundo na fila das 21h. Mais uma vez sua protagonista será uma Helena que provavelmente vive no Leblon e que certamente terá os momentos mais prosaicos de sua vida, como cafés da manhã intermináveis, levados ao público. Em um mundo de hypertexto, quem ainda tem paciência para acompanhar uma narrativa linear? Só se ela for cheia de efeitos especiais, explosões, tecnologia 3D e outros elementos que, sabemos, a novela das 21h ainda não oferece.

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